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RTP contratou comentador de direita radical. Depois de críticas tentou apagar o rasto

Diogo Barreto
Diogo Barreto 15 de outubro de 2025 às 16:52
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Gonçalo Sousa, ex-candidato pelo Chega que deixou o partido por este se ter "moderado", chegou a ser apresentado como comentador.

A 13 de outubro, segunda-feira, surgiu uma publicação no site onde se requisitavam assinaturas para a "dispensa imediata de Gonçalo Sousa como comentador da RTP Notícias". Pelas 13h07 de 15 de outubro, a petição tinha 227 assinaturas. No documento lê-se: "Nós, cidadãos e contribuintes que valorizam o Serviço Público de Televisão e o jornalismo rigoroso, vimos por este meio manifestar a nossa profunda preocupação e exigir a dispensa imediata de Gonçalo Sousa da função de comentador regular no canal RTP Notícias", não expondo o porquê de Gonçalo Sousa não poder fazer parte da grelha. Mas entretanto o seu nome já não aparece na grelha do canal. 

Gonçalo Sousa, ex-candidato pelo Chega, é comentador
Gonçalo Sousa, ex-candidato pelo Chega, é comentador D.R.

Na apresentação da nova grelha da televisão, a jornalista Alberta Marques Fernandes afirmava: "Estado da Arte. Fixe este nome porque vai ser o seu programa de quinta-feira à noite" e apresentava depois o painel que ia compor o programa: Joana Marques Brás, Rodrigo Moita de Deus e... Gonçalo Sousa.

A apresentação de Gonçalo Sousa motivou críticas nas redes sociais, com utilizadores a insurgirem-se com a contratação de um comentador para o serviço público que tem opiniões "misóginas", "transfóbicas" ou "racistas". O caso ganhou ainda mais tração quando uma conta do X fez um vídeo a mostrar tweets antigos publicados por Gonçalo Sousa (a sua conta foi banida pela rede social).

Depois destas críticas, alguns utilizadores começaram a receber mensagens da RTP a informar que Gonçalo Sousa não era comentador da RTP (apesar de haver ainda vídeos nas redes sociais do canal em que o mesmo é apresentado). A SÁBADO entrou em contacto com a RTP que explicou que “não assinou qualquer contrato com o comentador Gonçalo Sousa”. “A Direção de Informação da RTP ponderou e reviu a sua posição, após ter tomado conhecimento de alguns comentários feitos no passado pelo próprio, que a Direção de Informação da RTP considera inaceitáveis”, garantiram em comunicado.  

Já o Conselho de Redação-TV da RTP solicitou, em comunicado, "com caráter de urgência, uma reunião com o Diretor de Informação” e referiu ter “preocupação” com “o impacto que estas decisões e respetivas reações possam vir a ter na credibilidade e na percepção pública do novo canal de informação”.  

O analista político tem um canal de YouTube e páginas de Instagram e TikTok onde faz comentário político e onde foi ganhando visibilidade que o levou até ao Chega. Em 2024 começou a colaborar com o Observador onde faz o programa Geração V, com Joana Marques Brás e moderado por Vasco Galhardo, em colaboração com o projeto Eu Voto.

Em 2021, Gonçalo Sousa foi candidato do Chega à vice-presidência da Câmara Municipal de Oeiras. Em 2024, durante uma entrevista ao ZugaTV, confirmou que tinha abandonado o Chega por "questões ideológicas", afirmando que o partido se tinha "moderado" demasiado (a partir do minuto 50, ).

Uma das pessoas que deixou críticas à direção da RTP por ter contratado Gonçalo Sousa foi o jornalista e autor do livro Por Dentro do Chega - A face oculta da extrema-direita em Portugal, Miguel Carvalho. Na sua página de Facebook deixou citações do seu livro sobre Sousa: "Propagandista militante da supremacia branca, dava palco, nos seus canais, a convidados do mesmo tronco ideológico, como Mário Machado".

Nota: Notícia atualizada às 18h35 com o comunicado da RTP.

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